sábado, 26 de março de 2011

Fraudes empresariais: vc sabe o q é isso? Cuidado!

Por Clayton Nogueira

De quando em quando, o noticiário econômico e de negócios nos brinda com mais um caso de fraude. Não tenho como afirmar que os casos vêm aumentando - o que seria ruim - ou se, na verdade, mais casos têm sido descobertos - o que seria uma boa notícia. O que eu sei é que seu negócio, caro gestor, já foi fraudado, está sendo fraudado ou será fraudado no futuro. A fraude é um fato na vida corporativa.
 

Conceito e tipos de fraude
Fraude é todo artifício empregado com o fim de enganar uma pessoa e causar-lhe prejuízo. Existem fraudes de natureza financeira, fiscal, contábil, intelectual, eletrônica, documental etc. Nosso interesse aqui diz respeito às fraudes que ocorrem nas empresas privadas. Todas as formas mencionadas podem ocorrer - e normalmente ocorrem - debaixo do nosso nariz. Nas empresas privadas elas geralmente se enquadram em 10 diferentes categorias:

- Corrupção e suborno;
- Roubo de ativos tangíveis (estoque, máquinas e equipamentos etc.);
- Lavagem de dinheiro;
- Fraudes Contábeis;
- Brechas regulatórias e de conformidade;
- Fraude financeira interna;
- Roubo de informação, perda ou ataque por pirataria;
- Fraude com clientes e fornecedores;
- Roubo de propriedade intelectual, pirataria de produtos, processos etc;
- Conflito de Interesses.

Por que as fraudes acontecem?
Pesquisas do americano Donald Cressey, importante criminalista do século XX, revelaram que normalmente existem três elementos presentes quando ocorre uma fraude. O então doutorando Cressey batizou suas descobertas de “ triângulo da fraude” , nome ainda hoje muito utilizado para fins didáticos. Segundo ele, os três elementos normalmente presentes quando um indivíduo comete uma fraude são: motivo, oportunidade e racionalização.

Por Motivo ou Incentivo, entendemos toda a sorte de pressões internas e externas ao indivíduo que fazem com que ele passe por momentos difíceis do ponto de vista pessoal, familiar e que normalmente demandam mais dinheiro. Endividamento excessivo, problemas de saúde na família, infidelidade conjugal, envolvimento com jogos e droga, cobiça etc. são exemplos de situações que muitos passam e que formam o
primeiro lado do triângulo.
A Oportunidade – ou, como diz o ditado popular, “ a ocasião faz o ladrão” – diz respeito à possibilidade que o fraudador vislumbra de praticar a fraude e não ser descoberto. Nesse lado do triângulo, sistemas de controle interno deficientes e falta de mecanismos de prevenção e detecção de fraudes contribuem para a criação da “ oportunidade” de fraudar.
O último lado do triângulo, a Racionalização, diz respeito a um debate na consciência do fraudador buscando uma justificativa para seu ato. A fraude praticada provoca aquilo que os psicólogos chamam de “dissonância cognitiva” e o fraudador busca justificar seu ato. “ Passei a trabalhar por dois e não recebi aumento” ou “ não posso perder minha casa, meu carro, meu crédito” . A perda dos valores sociais e morais pode ser a base do problema das fraudes. Como fatores exógenos, observa-se maior incidência de fraudes nos países em desenvolvimento e durante crises econômicas.

Do ponto de vista interno, ambientes de Tecnologia da Informação complexos, joint-venturesou fusões e aquisições não consolidadas e existência de salários baixos também incrementam a ocorrência de fraudes. Organizações menores (com até 100 funcionários), com turnover alto e pouco comprometimento, onde a gestão ignora irregularidades, têm maior probabilidade de serem fraudadas.

De onde vêm as fraudes
Segundo pesquisa recente da KPMG, as fraudes, normalmente, vêm de dentro da empresa. Ou seja, caro gestor, o inimigo mora ao lado. Mais de 60% dos fraudadores são funcionários da empresa. Diretoria responde por 5% dos casos, gerência e chefia por mais ou menos 20% cada e o restante (cerca de 50%) das fraudes são realizadas pelos demais funcionários. Um dado interessante é que os funcionários entre 26 e 40 anos e com tempo de casa entre dois e cinco anos são os mais frequentes fraudadores. Do lado de fora da empresa, os famosos “ parceiros” completam o mapeamento da origem das fraudes. Prestadores de serviço com 14%, fornecedores com 13%, clientes com 8% e outros com 4%. Hoje em dia, na Era do Conhecimento, os principais ativos passaram a ser baseados na informação, que são fáceis de guardar eletronicamente e de serem roubadas e vendidas. Com isso, grande parte das fraudes são roubos de informação, por via eletrônica.

Como prevenir e detectar fraudes?
A fraude começa pequena e vai ficando maior até que algo não usual é notado por alguém. Para prevenir-se e detectá-la mais rapidamente acredito que os seguintes passos sejam fundamentais:
1. “ Tone at the Top” –O proprietários da empresa, sua diretoria e alta gerência têm que criar um código robusto de conduta ética e comunicá-lo de forma efetiva e constante para todos na organização. Seriedade na condução dos negócios e firmeza na investigação e punição aos eventuais infratores são fundamentais. Nesses casos exemplos valem mais que palavras;
2. Um bom sistema de Controle Interno, com adequado nível de supervisão, de segregação de funções e de níveis de autoridade, é fundamental para inibir o elemento “ oportunidade” do triângulo da fraude;
3. Um bom sistema de indicadores-chave de performance, com a evolução das principais variáveis de negócio (Vendas, Custo, Despesas, Capital de Giro, Ativos Fixos) podem indicar sinais de alerta que devem ser investigados;
4. Uma linha telefônica hotline para denúncias é imprescindível, pois o maior índice de descobertas de fraude provem de dicas e denúncias. A linha tem que garantir sigilo e proteção para quem denuncia e deve ser divulgada exaustivamente, inclusive no código de conduta ética, quadro de avisos, intranet etc;
5. Auditoria surpresa também é um excelente mecanismo para detectar e mesmo coibir a fraude. Elas evitam a preparação prévia por parte da área auditada e tem um caráter inibidor eficaz;
6. A avaliação preliminar do passado de funcionários, fornecedores e prestadores de serviços, sempre dentro do permitido pela lei, é muito importante para averiguar histórico profissional, educacional, de crédito, fiscal e até de antecedentes criminais;
7. Sobre os crimes eletrônicos, é possível escrever um livro. Porém, minimizar downloads; centralizar banco de dados, reduzindo o acesso apenas a quem precisa e só pelo tempo necessário ao projeto, com um bom sistema de senhas e trilhas; além de treinamento contra hackers já é um bom começo;
8. Programa de apoio aos funcionários: diferentemente dos itens anteriores, que visam minimizar a oportunidade, um programa de suporte aos funcionários lida com o lado “ Motivo” do triângulo da fraude, ao oferecer aos funcionários apoio psicológico e social nos momentos difíceis que, por certo, todos nós podemos passar, evitando que os mesmos procurem resolver seus problemas pelo lado da fraude; 

Concluindo, caro gestor, não há como anular as dificuldades e pressões às quais o ser humano está sujeito e que podem levá-lo à fraude, mas seguindo os oitos passos recomendados, é possível se prevenir e detectar mais rapidamente a fraude. Do contrário, só lhe resta o lado “ Racionalização” do triângulo da fraude para se justificar dizendo “ ninguém podia imaginar que este cara pudesse ter feito isso comigo”.

Clayton Nogueira é diretor financeiro para a América Latina da Valspar Corporation. Graduado em Administração de Empresas com mestrado em Controladoria pela USP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, conselheiro fiscal e de administração certificado pelo IBGC. É professor de Planejamento e Controle na FIAP e da FIA-USP, conselheiro fiscal da Abrafati e diretor vogal no IBEF-SP.

Um comentário:

Marcelo disse...

Temos que tomar cuidado com todo o tipo de fraude.

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